quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

OS ELEMENTOS - parte1




OS ELEMENTOS

O estudo das forças presentes (e ocultas) na natureza, presentes nos quatro elementos e seus
elementais, é recorrente em grande parte das grandes culturas, tanto Ocidentais, como Orientais. É também comum o facto de existir uma base teosófica no estudo dos quatro elementos básicos da natureza: o Ar, a Terra, a Água, e o Fogo.
Esta seleção, de certa forma natural, refere-se também à condição humana e à necessidade que temos de todos e cada um desses elementos para poder sobreviver.
A origem da Teoria dos Quatro Elementos julga-se ter tido início na Grécia Antiga, entre os filósofos pré-socráticos, envoltos em discussões que procuravam esclarecer a origem material de todas as coisas, atribuindo a determinado Elemento uma determinada particularidade geradora ou causadora de algo, na época, inexplicável. Estas dissertações deram origem a várias obras cuja expressão – literária, plástica, filosófica, científica e religiosa – perdura até aos dias de hoje.
O mais provável, no entanto, é que a origem desta Teoria tenha vindo do Oriente, adaptada do que hoje conhecemos como a Teoria dos Cinco Elementos, originária da China, sendo considerados, mais do que elementos, formas de transmutação da matéria/energia, a partir de um ciclo natural da transformação dos vários elementos – madeira, fogo, terra, metal, e água.
Também na Índia se vê a aplicação da figura dos Elementos (Éter, Fogo, Água, Ar e Terra) que entram em partes equilibradas na composição da matéria. A medicina ayurvédica, disciplina milenar, ganhou forma no pressuposto do trabalho na procura do equilíbrio entre os vários “humores”, plasmados nas forças da natureza.
Não é, seguramente, só um conceito esotérico, mas também a base de formas terapêuticas muito antigas, que já promoviam o equilíbrio energético e espiritual. O princípio dos Cinco Elementos é
amplamente usado na medicina tradicional chinesa, classificando na fitoterapia ervas específicas relacionadas com um desses elementos, em conformidade com as ações que promovem em determinada doença, no uso dos protocolos da acupuntura, e até em disciplinas que promovem o bem-estar como o Tai-chi-chuan e o Chi-Kung.
As descrições Renascentistas, no entanto, sugerem que o Ocidente também admitia a Teoria dos Elementos como forças subtis que se manifestariam através de transformações recíprocas. É o que se depreende de alguns dos textos clássicos, cuja forma de ver os elementos pressupõe uma certa ligação entre a astrologia e a alquimia, que ocorria naquela época, e que durante séculos subsistiu, dando lugar, mais tarde, à química.
O entendimento filosófico pós-socrático veio trazer um “Quinto Elemento”, que os gregos chamaram de “quintessência”. Seria o elemento "perfeito" que somente existiria no plano cósmico, formador do Universo. O entendimento mais consensual prende-se com a simbologia do Éter, representando a negação lógica do vácuo, e, assim, a correspondência com o Divino presente nos próprios Elementos da Natureza.
Numa breveanálise sobre cada um dos elementos, tendo por base documentos diversos elaborados ao longo dos últimos anos, pode fazer-se uma síntese em sequência algo ordenada
de tal forma que possa classificar, da melhor maneira possível, a natureza dos elementos de acordo com uma ideologia espiritualista mais abrangente. Assim, poderemos obter uma visão mais ampla e maior compreensão dos processos criativos com eles relacionados, nas suas diversas fases e transmutações.
AR
O ar é considerado como um símbolo ou matéria sagrada na maioria das religiões, além da Umbanda, incluindo o Cristianismo e chegando mesmo ao Hinduísmo e à Wicca.
Grande parte dos rituais religiosos são realizados na presença de um símbolo deste elemento, seja em forma de incenso (embora este represente também outros elementos), ou simplesmente pelas invocações efetuadas de forma oral.
Em algumas religiões neopagãs, como é o caso do Druidismo, da Wicca, que por si são tendencialmente ligadas à Natureza, também existe a crença na existência dos Elementos presentes no Universo.
No Paganismo, o ar foi o terceiro elemento que se formou da “quitessência”, ou Akasha, sendo considerado um elemento intermediário entre o princípio do fogo e o da água, o que, de resto, acontece de forma análoga com os outros Elementos.
A partir deste conceito, surgem os Elementais, nome esotérico dado aos espíritos existentes na natureza, e, como tal, também considerados como sagrados dentro da Umbanda. Entre os elementais do ar que, segundo a crença pagã, seriam capazes de controlar o Ar e o representar, estão os silfos, as sílfides e as fadas, entre outros.
ÁGUA
De igual forma, a água é considerada como sagrada na maioria das religiões, além da Umbanda. O Cristianismo, o Judaísmo, o Islamismo, o Xintoísmo, o Xamanismo e outros, fazem amplo uso deste Elemento nas mais variadas ritualísticas. Pela sua presença em Templos por meio de recipientes como taças, pias ou simplesmente copos, ou, na sua total magnitude, representados por um rio, lago ou mar, quando a liturgia é celebrada na natureza, a água é possuidora de mistérios que a fazem ser parte integrante do culto de praticamente todas as crenças e religiões. De entre os elementais da água capazes de controlar o elemento água e o representar, encontramos as descrições esotéricas das ondinas, sereias e das hidras, entre outros seres que tanto abundam na nossa expressão literária e que, outrora, tantos receios trouxeram a quem se sentisse próximo a eles.

TERRA
Por si só, o nome Terra deixa implícita a importância deste elemento sagrado em praticamente todas as religiões e cultos pagãos. Segundo estes últimos, o elemento Terra foi o último dos elementos a ser formado, pois pela sua principal caraterística, a solidificação, ela integra em si o fogo, a água e o ar.
Foi essa característica, segundo a crença pagã, que conferiu uma forma concreta aos outros três elementos. Foi também a partir desse momento que a manifestação dos restantes Elementos ganhou força na teoria da transmutação da Terra, e, por consequência, da transmutação humana, e que as Leis da Natureza ganharam forma, tempo e espaço.
Os Elementais responsáveis pela sua representação e manipulação são vários e de variadas formas e expressões: os gnomos, os duendes, as ninfas, as dríades, os faunos e todos os restantes ligados à terra e à vegetação mais rasteira.
FOGO
A generalidade dos cultos ou rituais religiosos são realizados com a presença muito ativa deste Elemento, seja através de uma fogueira ou de uma simples vela, sendo um Elemento tranmutador e transformador, detentor de um grande misticismo e respeito. Possui caraterísticas opostas às da água, como o calor e a expansão e segundo a crença pagã, o fogo e água teriam sido os elementos básicos com os quais tudo foi criado.
Os elementais do fogo que, segundo uma orientação esotérica, serão capazes de controlar o elemento fogo e o representar, são as salamandras, a fênix, o dragão e o singular boitatá.
ÉTER
A “Quintessência”, ou “Akasha” será o princípio original, o espaço cósmico ausente de vazio. É o “substrato espiritual primordial”, aquele que se diferencia. É a matriz do Universo e a base de toda a verdadeira magia. É o local onde ficam retidas todas as emoções, todas as ações e todas as memórias.
É nele que reside o verdadeiro conhecimento, equivalendo-se numa comparação livre ao que Jung chamou de inconsciente coletivo, evocando uma memória universal da humanidade, da qual percebemos breves momentos. É por isso que é considerado o mais singular dos cinco elementos, a base de todas as coisas da criação. Segundo Franz Bardon, o que algumas religiões chamam de Deus.
Sendo Elementos, “per si”, sagrados, a sua correlação traz aquilo que, com a devida orientação, podemos chamar de magia. A abordagem Umbandista a este tema, não sendo de todo uníssona, parte do pressuposto de se assumir como uma religião anímica, tendo como base a “anima” (alma) da Natureza, que se constitui pela agregação desses elementos, a sua transformação, e o direcionar da energia criada por essa via. Conta uma história bem conhecida que “a 15 de novembro de 1908, compareceu a uma sessão da Federação Espírita, em Niterói, então dirigida por José de Souza, um jovem de 17 anos de família tradicional fluminense. Chamava-se Zélio Fernandino de Moraes. Restabelecera-se, no dia anterior, de moléstia cuja origem os médicos haviam tentado, em vão, identificar. A sua recuperação inesperada por um espírito causara enorme surpresa, pois nem os médicos que o assistiam, nem os tios, sacerdotes católicos, haviam encontrado uma explicação plausível ou mesmo minimamente convincente. A família atendeu, então, à sugestão de um amigo, que se ofereceu para acompanhar o jovem Zélio à Federação Espírita, para o acompanhar num trabalho. Zélio foi convidado a participar da Mesa. Sentiu-se deslocado e constrangido, no meio daquelas pessoas.
E causou logo um pequeno tumulto. Sem saber porquê, em dado momento, ele disse: (…)"Aqui está faltando uma flor”. E, apesar da advertência de que não poderia afastar-se, levantou-se, foi ao jardim e voltou com uma flor que colocou no centro da mesa. Serenado o ambiente e iniciados os trabalhos, manifestaram-se espíritos que se diziam de índios e escravos. O dirigente
advertiu-os para que se retirassem, o que causou um pequeno tumulto e breve diálogo acalorado, no qual os dirigentes dos trabalhos procuravam doutrinar o espírito desconhecido que se manifestava e mantinha argumentação segura. Por fim, um dos videntes pediu que a entidade se identificasse, já que lhe aparecia envolta numa aura de luz…(…). De facto, numa análise mais cuidada a este relato, complementado com outros mais ou menos rigorosos, pode subentender-se
que aquilo que o menino Zélio fez foi, mais do que colocar uma flor como símbolo da Natureza, da própria vida, foi acrescentar o Elemento Terra, aos outros que já existiam na sessão Espírita. O Fogo, por meio da vela acesa, a Água, num copo, e o Ar, presente no próprio ambiente. Completando o “ciclo”, terá desencadeado as ações e reações que originaram a Umbanda como hoje a conhecemos…
Na próxima Edição, trataremos do significado litúrgico dos elementos da Natureza na Umbanda, o seu uso e a magia presente nas suas transmutações.
Vitorino Camelo e Claudio Ferreira, A.T.U.P.O.

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