segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A família-de-Santo


A família-de-Santo


Quando os negros africanos foram levados para o Brasil, para viverem como escravos nas fazendas dos senhores brancos, foram privados, não só da sua liberdade, mas também das suas raízes familiares, culturais e religiosas. A luta pela sobrevivência numa terra estranha, aliada à falta dos laços familiares e à necessidade de preservar a sua cultura, levou à integração de negros oriundos de diferentes etnias e regiões da África e, consequentemente, à fusão de culturas e cultos religiosos. Nasciam assim nas senzalas os primeiros cultos afro-brasileiros e com eles o conceito de família-de-Santo – a recriação da família perdida, tão importante para a conservação dos costumes e valores das culturas africanas.

A Umbanda herdou da sua raiz africana este conceito de família e é fundamental que todos os filhos-de-Santo compreendam a importância do mesmo. Para que uma corrente mediúnica possa realizar com sucesso a missão que lhe foi confiada pelos Orixás, é necessário que existam, entre os seus elementos, sentimentos de amor, união e fraternidade. É essencial que todos se respeitem, sejam verdadeiros e honestos e sejam capazes de estender a mão ao irmão que está mais fraco e necessita de auxílio. Como diz o ditado, “a união faz a força”! Por isso, se todos zelarem pela união da corrente, dificilmente surgirão elos fracos por onde ela se possa quebrar.

Mas a família-de-Santo não é apenas importante dentro do Templo de Umbanda. Aos olhos dos Orixás somos todos irmãos e só uma família na qual vibrem sentimentos de amor e união, poderá reflectir, tanto dentro como para fora do Templo, os ensinamentos dos Guias espirituais e do nosso amado mestre Jesus.

Que Oxalá abençoe a todos e à nossa amada Umbanda! B.C.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

fé cega, fé racional e Fé


Muitas vezes nos deparamos com autores e palestrantes, das mais diferentes agremiações religiosas afirmando que há duas formas de fé: a cega e a racional. Porém, nenhuma das duas é realmente Fé, mas simulacros de Fé e, talvez por isso mesmo, precisem de adjetivos. No caso da fé cega, é fácil percebê-la no discurso daqueles que pensam Deus como algo que vai realizar nossos desejos, como se fosse um "gênio da lâmpada". Essa fé cega aparece em vários movimentos esotéricos e em setores do movimento evangélico. São aqueles que dizem que se você pensar em um colar de diamantes o "universo" vai trazê-lo até você ou quando fica doente diz que não vai procurar um médico porque acredita que Deus vai curá-lo. Um outro exemplo de fé cega pode ser visto no motorista que diante de um alagamento da marginal Tietê, em São PAulo, diz que Deus vai fazer o carro atravessar e fica parado no meio, tendo o carro encoberto pela água. Estes são alguns exemplos de fé cega. Deus é um escravo disponível 24 horas para realizar nossos desejos, dos mais mesquinhos aos mais solidários, mas que continuam sendo os nossos desejos.

Porém, a fé racional, é o outro lado dessa moeda. É a fé de Tomé, que precisa ver para crer. Nem sempre é preciso ver, mas encontrar uma explicação racional para um fato desagradável como é comum em centros espiritistas onde é possível se consultar com "entidades". Nesses casos é comum encontrarmos pessoas que chegam bufando de raiva porque aconteceu algo desagradável e quando a "entidade" explica que em uma vida passada ela fez isso ou aquilo e por causa disso foi necessário passar por uma determinada vicissitude negativa, a pessoa entende racionalmente a situação e aceita, parando de sofrer ou de sentir raiva. Como afirmei, essas duas formas acima de fé são simulacros da Fé, mas trazem, obviamente, elementos que permitem que se transforme em uma verdadeira entrega aos designios de Deus, compreendendo que nada acontece em nossa vida que não contenha a oportunidade de aprender, seja a paciência em uma situação desagradável ou não ficar eufórico em uma agradável. A Fé não necessita de crença ou de racionalização, é vivida intensamente, é uma entrega e uma confiança plena a essa força superior que nos guia e que não existe para satisfazer o nosso ego, mas para realizar o que precisamos vivenciar, seja negativa ou positivamente, dentro do parâmetro estreito do nosso ego. Assim, quando passamos por uma vicissitude negativa, não é preciso pensar que está colhendo o que plantou, mas quem tem Fé agradece sempre a Deus pela oportunidade de tirar algum proveito espiritual daquela situação, aprendendo a ser mais paciente, compreensivo, a perdoar ou mesmo que não se deve agir daquela forma, fazendo aos outros apenas aquilo que gostaríamos que os outros fizessem conosco, mas sem precisar lamentar, espernear etc. Em alguns casos é necessário ser enérgico, mas essencialmente amoroso, pois nem todos estão preparados para serem livres, porém responsáveis. Enfim, a Fé é um sentimento inerente ao espírito e quando desperto se transforma em uma energia de grande intensidade que transforma a vida cotidiana de quem a vivencia e que não cabe nos limites estreitos do ego ou de sua cegueira ou racionalidade.

Adilson Marques

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O Axé das Ervas



Muito antes do surgimento da escrita, o homem primitivo já experimentava a diversidade de plantas ao seu dispor, classificando-as consoante a sua potencialidade: alimentação, medicina, veneno, alucinogénicos. O conhecimento sobre as potencialidades das plantas tem, por isso, a sua raíz na nossa ancestralidade, sendo que estas foram objecto de estudo de várias civilizações, ao longo dos tempos. A necessidade humana em conhecer e usar a natureza à sua volta para dela retirar benefícios, levou a que se encetasse esta jornada. A utilização de algumas plantas com capacidades de cura fizeram destas os primeiros recursos terapêuticos e uma das primeiras formas de manifestação do homem.

Registos escritos sobre a forma de utilização e efeitos são vários e chegam-nos de diversas épocas e pontos do planeta, desde os Chineses em 3000 a.C. aos Aztecas no Século XVI. Os primeiros relatam a importância das plantas em cerimónias de magia e de medicina, havendo também referências a outros usos, nomeadamente na alimentação.

O registo escrito mais antigo de que dispomos data do ano 3700 a.C. e consiste num tratado médico deixado pelo imperador chinês Shen Nung, onde afirmava que, para cada doença existia uma planta, que forneceria um remédio natural.

No entanto, o mais conhecido denomina-se Papiro de Ebers e tem a sua origem no Antigo Egipto, por volta de 1500 a.C., contendo centenas de fórmulas e remédios. Foi descoberto pelo egiptólogo alemão George Ebers. Os egipcíos tinham bastantes conhecimentos sobre o uso de plantas, recorrendo a estas para diversos e variados fins, tais como: alimentação, medicina, cosmética, embalsamento, incensos, óleos para dores musculares e relaxamento, entre outras. A história da aspirina, por exemplo, pode ser remontada até ao Antigo Egipto. Do Antigo Egipto chega-nos um famoso médico da antiguidade – Imhotep.

Da Mesopotâmia, actual Iraque, e berço da civilização humana, chegam-nos registos em placas de barro datadas entre 3000 e 2000 a.C. que dão conta de trocas comerciais de plantas.

Da Índia temos registos que datam aproximadamente do ano 2500 a.C., nomeadamente o Athatva Veda, e que indicam que o consumo e uso de ervas tinham a finalidade de prolongar a vida. Um facto curioso é que os hindus acreditavam que apenas os puros e piedosos podiam colher as plantas e que estas deviam crescer longe da vista humana e do pecado, pois estas eram “as filhas predilectas dos deuses”, assumindo por isso uma posição divina.

Na Grécia, no Século XIII a.C., teve lugar o aparecimento do primeiro “spa” de que se tem conhecimento, bem como a existência de diversos templos de cura que recorriam às propriedades terapêuticas das plantas. Os gregos fizeram um esforço em compilar o conhecimento que lhes chegou de várias partes do mundo conhecido, nomeadamente da Índia, Babilónia, Egipto e mesma da China. O filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) e o seu discípulo Teofrasto (370-286 a.C.) foram os criadores do primeiro sistema científico de classificação botânica.

Durante a Idade Média, devido às dificuldades criadas pela Igreja ao progresso científico, os estudos médicos das plantas restringiram-se aos monges nos mosteiros e a algumas mulheres em aldeias remotas. Além disso, a Igreja considerava as doenças como castigo divino e, portanto, não passíveis de intervenção humana. Este facto levou a que o estudo sobre o uso de plantas ficasse limitado ao mundo árabe. Neste contexto, é de salientar o esforço dos persas em traduzir o trabalho realizado pelos gregos, continuando assim o seu estudo.

No Renascimento, Século XV, deu-se o regresso do estudo sobre plantas ao Velho Continente, sendo esta uma era dourada neste campo, onde se fizeram inúmeras descobertas de curas para várias doenças. Houve uma centralização sobre o estudo das plantas, o qual passou a ser proibido às mulheres e curandeiros não profissionais. Quem o fizesse seria considerado herege. No século XVI, um suíço chamado Philippus Aureolus Theophrastus percorreu a Europa, contactando com curandeiros, parteiras e feiticeiros, em busca do conhecimento sobre plantas e minerais. Mais tarde viria a ser conhecido como Paracelso, o fundador da Alquimia e precursor dos conceitos da influência cósmica sobre as plantas e as suas relações com os quatro elementos – terra, água, fogo e ar.

Já na era dos Descobrimentos, os povos europeus observaram e registaram o uso de ervas pelos nativos para fins medicinais e alimentares. Estes povos nativos não possuiam mais do que alguns registos sobre a forma de pinturas rupestres, sendo, no entanto, plausível que estes recorressem às plantas para a sua dieta e medicina desde a sua chegada ao continente americano, há cerca de doze mil anos. Quase todo o conhecimento sobre a flora brasileira foi descoberto por cientistas estrangeiros, especialmente os naturalistas, através da realização de expedições científicas ao Brasil, desde os descobrimentos portugueses até ao final do século XIX.

Com o advento da Revolução Industrial e o início da Era Moderna, final do Século XIX, o Homem foi capaz de sintetizar partes das plantas, fazendo com que a medicina natural fosse ridicularizada, pois era considerada como ultrapassada. No início do Século XX, o uso de plantas deixou de ser comum. Contudo, recentemente esta tendência tem vindo a mudar com o ressurgimento da medicina natural, nomeadamente no uso destas como complemento a certos tratamentos, cujos efeitos secundários dos medicamentos são nocívos.

Também ao longo de toda a história da Humanidade, encontramos a utilização das plantas em quase todas as religiões ou cultos religiosos, não apenas associada à cura e tratamento de doenças, a medicina natural, mas também como elementos ritualísticos e magísticos, capazes de facilitar a ligação do ser Humano com o plano espiritual. Em todos os povos e culturas, as ervas tornaram-se conhecidas pelas suas propriedades para repelir energias negativas, afastar o mal ou proteger de azares, bem como pela capacidade de atrair energias positivas, boa sorte e fortuna.

Tanto na pré-história como nas civilizações da antiguidade, o curandeiro ou homem da medicina era, simultaneamente, o sacerdote ou líder espiritual, acumulando, por inerência às suas funções, todo o conhecimento medicinal com o conhecimento religioso e espiritual. Assim, ao longo dos séculos, feiticeiros, xamãs, curandeiros e sacerdotes, foram conhecendo as propriedades energéticas e espirituais de cada planta e aprendendo a utilizá-las como elementos preciosos para estabelecer a comunicação com as divindades e espíritos dos antepassados, bem como para alcançar o equilíbrio espiritual desejado.

Tal como aconteceu noutras religiões, a Umbanda herdou das suas raízes, principalmente da africana e indígena, o conhecimento da utilização das ervas (folhas, flores, raízes, sementes, etc.) tanto a nível medicinal como magístico e espiritual. Este conhecimento chegou da antiguidade até aos nossos dias, não só através da transmissão oral do conhecimento popular, de geração em geração, e dos estudos científicos realizados ao longo dos séculos, mas também do plano astral, através das entidades espirituais, nomeadamente daquelas que mais viveram em comunhão com a natureza, como é o caso dos Caboclos, Pretos-velhos e Boiadeiros.

Na Umbanda, para além do uso terapêutico, as ervas são utilizadas tanto para a limpeza energética, como para a imantação ou energização de pessoas, ambientes ou lugares. Esta utilização é feita de várias formas que vão desde os banhos e amacis de ervas, passando pelo fumo resultante da combustão de elementos vegetais na defumação ou no queimar de um charuto, até à simples utilização das folhas verdes durante um “passe”. Quem não conhece os banhos de descarrego ou defesa, a famosa arruda utilizada pelo Preto-velho ou ainda o charuto do Caboclo?

Para além das propriedades químicas, cada planta possui qualidades energéticas que são nada mais, nada menos, do que a Energia Vital da homeopatia, o Prāna dos Hindus, o Qi dos chineses ou simplesmente o Axé da Umbanda. Cada planta carrega a vibração energética de um ou vários Orixás e é a manipulação destas energias, associada a outros elementos magísticos, que os Guias e sacerdotes da Umbanda utilizam como recurso para estabelecer ou restabelecer o equilíbrio energético e espiritual.

Dependendo da necessidade, problema ou situação, entidades e sacerdotes recorrem a uma ou mais ervas, de acordo com o conhecimento que possuem sobre as suas qualidades energéticas e formas de utilização, para que actuem atraindo ou activando as vibrações de um ou mais Orixás, obtendo assim a harmonia e o equilíbrio físico, mental, emocional ou espiritual necessário. Da mesma forma, utilizam o “sangue vegetal” portador de essências divinas, para eliminar e transmutar as energias negativas, limpando ambientes e pessoas. As ervas são verdadeiras dádivas divinas e são essenciais na ritualística de Umbanda. Exemplo do seu valor e importância, é a defumação realizada no início da Gira, essencial para a limpeza e purificação do ambiente energético do terreiro e desobstrução e alinhamento dos chacras dos médiuns, contribuindo para uma maior capacidade de concentração, elevação do pensamento e, consequentemente, uma maior aproximação dos Guias.

Actualmente, assistimos a um renascer do interesse cada vez maior da ciência pelo poder das plantas, através do estudo e desenvolvimento das chamadas medicinas naturais ou alternativas. Terapias baseadas nas propriedades das plantas, como a fitoterapia e os florais, são hoje reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde. Conhecimentos milenares, que hoje a ciência redescobre, são preservados e postos em prática diariamente, não só dentro dos templos de Umbanda e de outros cultos afro-brasileiros, como no seio de outras religiões.

FONTE: http://raizculturablog.wordpress.com/2009/01/21/ervas-e-seu-uso-ancestral/; http://www.ervasdositio.com.br/


Bernardo Cruz e Fred Marques - A.T.U.P.O.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Quebrar Correntes


Saudações, Irmãos de Fé!

No mês de Maio, comemorou-se o dia dos Pretos Velhos,

nossas queridas entidades de Umbanda, sinônimo de humildade,

sabedoria e, acima de tudo, de uma vida sofrida que tiveram em

suas passagens na Terra, no cativeiro em senzalas, onde o negro era

visto como um animal acorrentado, não podendo, na maioria das

vezes, ter uma vida em família e sendo impedido de praticar seus costumes e sua

religião. No dia 13 de Maio, é também celebrado o dia em que as correntes que

aprisionam o negro brasileiro se partem: dá-se a Liberdade através da abolição da

Escravatura, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel.

Pois bem, esta introdução falando do Negro Brasileiro e da Lei Áurea lembra-nos o

porquê de existir a figura do Preto-velho em nossa Umbanda ou do negro escravo em

solo brasileiro, que, apesar de acorrentado durante mais de 300 anos no Brasil,

lutou sempre, não deixando morrer seus costumes,tendo mantido suas origens no que

diz respeito à sua religião! Adaptou-se, lutou por sua liberdade e contra a tirania

do homem branco e não perdeu a esperança!

Hoje o Preto-Velho desce nos terreiros e templos de Umbanda, na sua divina

sabedoria, ensinandonos a termos paciência, a não desistirmos, mostrando que não é

tão difícil, que devemos carregar a luta e a esperança gravadas na alma e, acima de

tudo, nos ensinando que devemos quebrar as nossas próprias correntes e aceitarmos a

nossa liberdade e não esperar que venha uma princesa Isabel assinar uma Lei que nos

dê a liberdade e o poder de escolher!

Negro velho diz: “ Isso vocês já possuem”!

Por isso, meus irmãos, quebrem as vossas correntes e vivam!

Salve a sabedoria dos Pretos Velhos e Adorei as Almas!

Pai Cláudio de Oxalá

Sacerdote de Umbanda | ATUPO -Templo de Umbanda Pai Oxalá

terça-feira, 28 de junho de 2011

Homenágem a Yemanjá


Dia 25 de Junho de 2011

Mais um dia histórico para a A.T.U.P.O., mais uma Homenagem a Yemanjá, onde a Partilha, o Amor, o Respeito, a Fé e como sempre uma mão cheia de novidades e bênçãos dos céus que nos dão cada dia que passa uma certeza de trilhar no caminho certo e uma vontade enorme de continuar a ser quem somos e da maneira que somos.

Foram horas maravilhosas de convívio com guias , com entidades, com irmãos, com amigos e até estranhos e curiosos que passavam na praia e que de admiração tinham tanto como nós de ALEGRIA E PRAZER POR FAZER AQUELE TRABALHO.

Bem hajam os guias que nos vieram abençoar, bem hajam as pessoas que estoicamente e sobre um sol abrasador nos acompanharam e bem haja MÃE YEMANJÁ por todo o Amor derramado por estes teus filhos.

SALVE MÃE YEMANJÁ

SER BOM MÉDIUM


Ser bom médium

Já muito se falou e escreveu acerca da mediunidade. No entanto, tanto médiuns de trabalho como consulentes colocam muitas vezes a questão: “O que é necessário para ser um bom médium?”

Não querendo criar uma “receita” para algo que depende do esforço, empenho e dedicação de cada um, é inquestionável que o bom e correcto exercício da mediunidade exige que o médium cultive em si mesmo um conjunto de valores e atitudes como a Fé, o amor, a honestidade e rectidão, a humildade e a responsabilidade.

Mas, para além destes valores, existe um outro aspecto essencial para o crescimento do médium – o conhecimento. Conhecer as normas de funcionamento do Templo, a ritualística ou os pontos cantados não basta para se ser um bom médium de trabalho. A busca do conhecimento sobre a religião e seus fundamentos, sobre a espiritualidade, as Entidades, suas linhas de trabalho e forma de actuação, ervas e banhos, e principalmente sobre o ser Humano e a vida deve ser constante e é fundamental para um bom crescimento do médium, enquanto instrumento de trabalho dos Guias e Orixás.

O conhecimento permite a compreensão e o entendimento, que, por sua vez, geram a consciência, a qual se transforma em amor. O médium que adquire maior consciência sobre a espiritualidade e sobre a vida aumenta a sua capacidade de amar o próximo e a si mesmo, tornando mais forte a sua conexão com o Divino e, consequentemente, mais firme e equilibrada a ligação com as Entidades com quem trabalha. O conhecimento do médium é uma mais-valia para os Guias que o utilizam como ferramenta no trabalho espiritual. É claro que para esta conquista de consciência não basta o conhecimento teórico, é necessária também a prática. Além de estudar, o médium deve ser activo e participativo nos trabalhos do Templo.

A reforma de princípios e valores juntamente com a busca do conhecimento são fundamentais para o crescimento do indivíduo, não apenas como médium, mas também como ser Humano, sob pena de estagnar na sua caminhada.

Que Oxalá abençoe e ilumine a todos.

Bernardo Cruz , A.T.U.P.O.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

LENDA DE OXÓSSI


A cada ano, após a colheita, o rei de Ijexá, saudava a abundância de alimentos com uma festa, oferecendo inhame, milho e coco. O rei comemorava com sua família e seus súditos, só as feiticeiras não eram convidadas. Furiosas com a desconsideração, enviaram à festa um pássaro gigante que pousou no teto do palácio, encobrindo-o e impedindo que a cerimônia fosse realizada.

O rei mandou chamar os melhores caçadores da cidade. O primeiro tinha vinte flechas. Ele lançou todas elas, mas nenhuma acertou o grande pássaro. Então o rei aborreceu-se e o mandou embora. Um segundo caçador se apresentou, este com quarenta flechas, o fato se repetiu novamente e o rei mandou então prendê-lo.

Bem próximo dali vivia Oxóssi, um jovem que costumava caçar à noite, antes do sol nascer, ele usava apenas uma flecha vermelha. O rei mandou chamá-lo para dar fim no grande pássaro. Sabendo das punições imposta pelo rei aos outros caçadores, a mãe de Oxóssi temendo pela vida do filho, consultou um babalaô, e os obis mostraram que, se fosse feita uma oferenda para as feiticeiras ele teria sucesso.

A oferenda consistia em sacrificar uma galinha. Nesse exato momento, Oxóssi deveria atirar a sua única flecha. E assim o fez, acertando o pássaro bem no peito ferindo-o de morte. O rei agradecido pelo feito, deu ao caçador metade de sua riqueza e a cidade de Keto, “ terra dos panos vermelhos”, onde Oxóssi governou até a sua morte, tornando-se depois um Orixá.


In "Mitologia dos Orixás"de Reginaldo Prandi, Ed. Companhia das Letras.

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Esta lenda mostra claramente que a energia de Oxóssi está ligada à fartura, à prosperidade. É Oxóssi que, com o seu tiro certeiro, mata o pássaro gigante, pousado no teto do palácio, permitindo assim que continue a celebrar-se a abundância de alimentos e recebendo em troca metade da riqueza do rei e uma cidade.

É Oxóssi que, com a sua flecha, providencia para que nada falte ao seu povo , adentrando pelas matas, na calada da noite, sem medo dos perigos, em busca da caça, do alimento. E é a busca constante, à procura do alimento, que lhe permite conhecer as matas, cada árvore, cada folha. Assim, a energia de Oxóssi está ligada a essa busca que visa em si o conhecimento; não só o conhecimento do mundo que nos rodeia, pois é a energia de Oxóssi que está ligada às diferentes áreas do saber, a ciência, a educação, a filosofia, mas também e principalmente ao conhecimento de nós mesmos, das nossas necessidades, para que possamos crescer e evoluir enquanto seres materiais e espirituais. É a energia de Oxóssi que vibra em nós, quando refletimos, buscamos o nosso interior, para compreendermos quem somos e quem queremos ser. É neste sentido que a energia de Oxóssi atua como Caçador de Almas que, com a sua flecha certeira, instrumento de fé, nos resgata, nos cura, derrotando o pássaro gigante que habita dentro de nós , permitindo, assim, que possamos viver com a certeza de que Oxóssi nos guiará no caminho da Luz, sempre buscando, sempre partilhando, para que a fartura, a abundância sejam sempre celebradas por todos nós!


Mary Nogueira - ATUPO