sexta-feira, 18 de novembro de 2011

fé cega, fé racional e Fé


Muitas vezes nos deparamos com autores e palestrantes, das mais diferentes agremiações religiosas afirmando que há duas formas de fé: a cega e a racional. Porém, nenhuma das duas é realmente Fé, mas simulacros de Fé e, talvez por isso mesmo, precisem de adjetivos. No caso da fé cega, é fácil percebê-la no discurso daqueles que pensam Deus como algo que vai realizar nossos desejos, como se fosse um "gênio da lâmpada". Essa fé cega aparece em vários movimentos esotéricos e em setores do movimento evangélico. São aqueles que dizem que se você pensar em um colar de diamantes o "universo" vai trazê-lo até você ou quando fica doente diz que não vai procurar um médico porque acredita que Deus vai curá-lo. Um outro exemplo de fé cega pode ser visto no motorista que diante de um alagamento da marginal Tietê, em São PAulo, diz que Deus vai fazer o carro atravessar e fica parado no meio, tendo o carro encoberto pela água. Estes são alguns exemplos de fé cega. Deus é um escravo disponível 24 horas para realizar nossos desejos, dos mais mesquinhos aos mais solidários, mas que continuam sendo os nossos desejos.

Porém, a fé racional, é o outro lado dessa moeda. É a fé de Tomé, que precisa ver para crer. Nem sempre é preciso ver, mas encontrar uma explicação racional para um fato desagradável como é comum em centros espiritistas onde é possível se consultar com "entidades". Nesses casos é comum encontrarmos pessoas que chegam bufando de raiva porque aconteceu algo desagradável e quando a "entidade" explica que em uma vida passada ela fez isso ou aquilo e por causa disso foi necessário passar por uma determinada vicissitude negativa, a pessoa entende racionalmente a situação e aceita, parando de sofrer ou de sentir raiva. Como afirmei, essas duas formas acima de fé são simulacros da Fé, mas trazem, obviamente, elementos que permitem que se transforme em uma verdadeira entrega aos designios de Deus, compreendendo que nada acontece em nossa vida que não contenha a oportunidade de aprender, seja a paciência em uma situação desagradável ou não ficar eufórico em uma agradável. A Fé não necessita de crença ou de racionalização, é vivida intensamente, é uma entrega e uma confiança plena a essa força superior que nos guia e que não existe para satisfazer o nosso ego, mas para realizar o que precisamos vivenciar, seja negativa ou positivamente, dentro do parâmetro estreito do nosso ego. Assim, quando passamos por uma vicissitude negativa, não é preciso pensar que está colhendo o que plantou, mas quem tem Fé agradece sempre a Deus pela oportunidade de tirar algum proveito espiritual daquela situação, aprendendo a ser mais paciente, compreensivo, a perdoar ou mesmo que não se deve agir daquela forma, fazendo aos outros apenas aquilo que gostaríamos que os outros fizessem conosco, mas sem precisar lamentar, espernear etc. Em alguns casos é necessário ser enérgico, mas essencialmente amoroso, pois nem todos estão preparados para serem livres, porém responsáveis. Enfim, a Fé é um sentimento inerente ao espírito e quando desperto se transforma em uma energia de grande intensidade que transforma a vida cotidiana de quem a vivencia e que não cabe nos limites estreitos do ego ou de sua cegueira ou racionalidade.

Adilson Marques