sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Um pensamento UNIVERSAL do ...DALAI LAMA


...Ninguém quer a raiva, ninguém quer a intranquilidade, mas por causa da ignorância somos acometidos por sentimentos como esses. A raiva faz-nos perder uma das melhores qualidades humanas, o poder de discernimento. Temos um cérebro bem desenvolvido, coisa que outros mamíferos não têm. Esse órgão permite-nos julgar o que é certo e o que é errado. Não apenas em termos actuais, mas em projecções para daqui dez, vinte ou mesmo cem anos. Sem nenhum tipo de pré-cognição, podemos utilizar o nosso bom senso para determinar o certo e o errado. Imaginar as causas e seus possíveis efeitos. Contudo, se a nossa mente estiver ocupada pela raiva, perderemos o poder de discernimento e tornar-nos-emos mentalmente incompletos. Devemos salvaguardar essa capacidade e, para tanto, temos que criar uma companhia de seguros interna: autodisciplina, autoconsciência e uma clara compreensão das desvantagens da raiva e dos efeitos positivos da bondade. Se refletirmos a respeito dessas questões com frequência, podemos incorporar a idéia e, então, controlar a mente.

Por exemplo: pode ser que você seja uma pessoa que se irrita facilmente com pequenas coisas. Com desenvolvida compreensão e consciencialização, isso pode ser controlado. Se você fica geralmente zangado durante dez minutos, tente reduzi-los para oito. Na semana seguinte, reduza para cinco e, no próximo mês, para dois. Depois, passe para zero. É assim que desenvolvemos e treinamos nossa mente. É o que penso e também o que pratico.

É perfeitamente claro que todos necessitam de paz interior, que só pode ser alcançada por meio da bondade, do amor e da compaixão. O resultado é uma família em paz, felicidade entre pais e filhos, menos brigas entre casais. Numa nação, essa atitude pode criar unidade, harmonia e cooperação com saudável motivação. A nível internacional, precisamos de confiança e respeito mútuos, discussões francas e amistosas, com motivações sinceras e um esforço conjunto no sentido de resolver problemas. Tudo isso é possível.

Precisamos, porém, mudar interiormente. Nossos líderes têm feito o melhor que podem para resolver nossos problemas, mas, quando um é resolvido, surge outro. Tenta-se solucionar este, surge mais um noutro lugar. Chegou o momento então de tentar uma abordagem diferente.

É certamente difícil realizar um movimento mundial pela paz de espírito, mas é a única alternativa. Caso houvesse outro método mais fácil e prático, seria melhor, porém não há. Se com armas pudessemos chegar à paz duradoura, muito bem. Transformaríamos todas as fábricas em produtoras de armamentos. Gastaríamos todos os dólares necessários, se conseguíssemos a definitiva paz, mas tal é impossível.

As armas não permanecem empilhadas. Uma vez desenvolvidas, alguém irá usá-las. O resultado é a morte de criaturas inocentes. Portanto, a única maneira de atingirmos uma paz mundial duradoura é por meio da transformação interior. E, mesmo que essa transformação não ocorra durante esta vida, a tentativa terá sido válida. Outros seres humanos virão; a próxima geração e as seguintes. E o progresso pode continuar. Sinto que, apesar das dificuldades práticas, e, mesmo correndo o risco de que tal visão seja considerada pouco realista, vale a pena o esforço. Assim, aonde quer que eu vá, expresso essas idéias e sinto-me muito motivado porque mais pessoas têm sido receptivas a elas.

Cada um de nós é responsável por toda a humanidade. Chegou a hora de pensarmos nas outras pessoas como verdadeiros irmãos e irmãs e nos preocuparmos com o seu bem-estar. Mesmo que você não possa sacrificar-se inteiramente, não deverá esquecer-se das dificuldades dos outros. Temos de pensar mais sobre o futuro em benefício de toda a humanidade. Se você tentar dominar os seus sentimentos egoístas e desenvolver mais bondade e compaixão, em última análise, você é quem irá sair beneficiado. É o que chamo de egoísmo sábio. Pessoas egoístas tolas só pensam em si mesmas, e o resultado é negativo. Egoístas sábios pensam nos outros, ajudam da melhor forma e também colhem os benefícios. Essa é minha simples religião. Não há necessidade de templos ou de filosofias complicadas. O nosso próprio cérebro, o nosso coração são nossos templos. A filosofia é a bondade.

Dalai Lama

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Lenda de OXALÁ


Orixalá cria o mundo

No começo, o mundo era todo pantanoso e cheio de água, um lugar inóspito, sem nenhuma serventia. Acima dele havia o céu o Orum, onde viviam Olorum e todos os Orixás, que às vezes desciam para brincar nos pântanos insalubres. Desciam por teias de aranhas penduradas no vazio. Ainda não havia terra firme, nem o homem existia. Um dia Olorum chamou à sua presença Oxalá, o grande orixá. Disse-lhe que queria criar terra firme lá em baixo e pediu-lhe que realizasse tal tarefa. Para a missão, deu-lhe uma concha marinha com terra, uma pomba e uma galinha com pés de cinco dedos. Oxalá desceu ao pântano e depositou a terra da concha. Sobre a terra pôs a pomba e a galinha e ambas começaram a ciscar. Foram assim espalhando a terra que viera na concha até que terra firme se formou em toda a parte. Oxalá voltou a Olorum e relatou-lhe o sucedido. Olorum enviou um camaleão para inspeccionar a obra de Oxalá e ele não pode andar sobre o solo que ainda não era firme. O camaleão voltou dizendo que a terra era ampla mas ainda não suficientemente seca. Numa segunda viagem o camaleão trouxe a notícia de que a Terra era ampla e suficientemente sólida, podendo-se agora viver em sua superfície. O lugar mais tarde foi chamado de Ifé, que quer dizer ampla morada. Depois Olorum mandou Oxalá de volta a Terra para plantar árvores e dar alimentos e riquezas ao homem. E veio a chuva para regar as árvores. Foi assim que tudo começou. Foi ali, em Ifé, durante uma semana de quatro dias que Orixá Nlá criou o mundo e tudo o que existe nele.
Obatalá cria o homem (…) Mas a missão não estava ainda completa e Oludumare deu outra dádiva a Obatalá: a criação de todos os seres vivos que habitariam a Terra. E assim Obatalá criou todos os seres vivos e criou o homem e criou a mulher. Obatalá modelou em barro os seres humanos e o sopro de Olodumare os animou. O mundo agora se completara. E todos louvaram Obatalá.

In "Mitologia dos Orixás"de Reginaldo Prandi, Ed. Companhia das Letras.

Esta lenda narra a história da criação do mundo e da humanidade: Olorum ( que é o Ser Supremo, Deus) incumbe a Oxalá a responsabilidade de criar a Terra. Depois da sua formação, estando ela pronta e em condições de acolher a vida humana, Oxalá recebe de Olorum (ou Olodumare) a tarefa sublime de criar o homem, a mulher, a humanidade. Oxalá é por isso o Orixá responsável pela existência de todos os seres do céu e da terra, é o Pai da humanidade. É o Pai Maior, Criador e Pacificador, detentor da Luz espiritual, é a energia que cuida de todos os seres do planeta, de todos os homens. Oxalá é também a Luz Divina que irradia os seus raios sobre todos os Orixás. A sua cor é o branco, representando a pureza, a paz e no branco se inserem todas as cores, todos os raios todos os Orixás, que a Ele estão ligados. Não nos esqueçamos que o Seu principal atributo é a Fé, a Fé que nos liga ao Ser Supremo, ao Divino Criador. Então, o que seria de nós sem a Fé? O que seria do Amor sem a Fé? O que seria da Justiça sem a Fé? É ela que, ao vibrar em cada um de nós, nos permite evoluir, crescer espiritualmente, para que tenhamos êxito naquilo que queremos, naquilo que precisamos e para o qual lutamos. E que melhor exemplo de Fé do que Jesus Cristo, que se despojou dos seus bens, curou os doentes, estendeu a mão aos desamparados e venceu a morte? Por isso a Sua imagem está presente em todos os Templos de Umbanda e está associada a Oxalá. É a mesma energia, a centelha divina que existe em cada um de nós, estimulando a busca espiritual, através da religiosidade, da caridade e de amor ao próximo e por tudo aquilo que Oxalá criou, num acto de Inspiração e de Fé!

Mary Nogueira - A.T.U.P.O.

ESCRITA MÁGICA - PARTE 2


A Escrita Mágica na Umbanda

O ponto riscado

O ponto riscado possui grande significado na liturgia Umbandista. O seu significado expande-se além das suas propriedades magísticas, na sua consagração há muito como “escrita mágica sagrada simbólica” (Saraceni, R.)

Os pontos riscados, como símbolos magísticos, podem também evocar sinais expressos numa representação orientada para um determinado propósito ou para a própria trajectória humana, sendo muitas vezes usada a pemba*, pelos guias, por para poder riscar os seus pontos ou símbolos espirituais. São espaços cuja função é dada e orientada pela entidade. É também através do ponto riscado que os Caboclos, Pretos-Velhos ou Exus contam a sua história, a sua origem e passagens do mundo material e astral, e também no qual manifestam a sua identidade, diferenciada das demais, sendo o próprio estandarte da entidade.

Compreendendo-o deste modo, o ponto riscado é um dos mais vigorosos meios magísticos utilizados na Umbanda, consistindo na sua base de um conjunto de símbolos feitos com pemba e agrupados de forma a movimentar energias e a criar campos de forças, ou como base de sustentação de alguns trabalhos. A variedade de funções que é sua propriedade é vasta; os pontos de descarrego tão sobejamente conhecidos; os pontos de firmeza, etc.

Os pontos riscados com Pemba representam uma grafia de projecção astral; de símbolos que se revestem de poder mágico, que a força do Orixá lhes confere. Criam genericamente uma espécie de campo energético, onde o instrumento utilizado pela entidade, a Pemba, manipula as forças da Natureza na afinidade com a entidade, na sua identificação e domínios, na prossecução do efeito desejado (dependendo também claramente do merecimento do consulente e do médium). São códigos vinculados ao mundo espiritual, no campo de acção de determinada falange de entidades. Quando são desenhados sem conhecimento de causa, acabam por “não projectar a sua grafia luminosa” (Lima, C.) e não passam de sinais inócuos, porque têm que ser movimentados pelo pensamento, assim como não basta ver um ponto num livro para riscá-lo sem o devido conhecimento, e sem as devidas consequências.

Para um ponto riscado, além da Pemba, podem ser usadas outras substâncias, dependendo do trabalho a realizar, como a marafa (pinga ou cachaça), fundanga (pólvora) etc. Também é utilizado somente o gesto, sem matéria adicional, na intenção pretendida.

Muitos dos símbolos sagrados são do conhecimento comum, como a Cruz, a Estrela de David ou de seis pontas, que os Umbandistas reconhecem como a estrela do equilíbrio, na força da justiça de Deus incorporada no Orixá Xangô, entre outros.

Outros desses símbolos mágicos, activados no plano material, são desconhecidos e ainda carecem de classificação. No seio da comunidade Umbandista, as divergências de opiniões mantêm discussão prolongada sobre este tema. Vários dirigentes e autores, sem consenso na sua abordagem, diferem na leitura desses mesmos símbolos, catalogando e fazendo triagens próprias. Outrossim, a reprodução de símbolos e grafias idênticas encontram-se em diversas casas, países, até mesmo religiões. Certo é que, na transversalidade da Umbanda, se reconhecem símbolos riscados indicando mistérios que são propriedade ou capacidade de determinada entidade. Será ponderado não admitir conhecimento absoluto sobre o tema, também na perspectiva de uma aprendizagem contínua...

"Usem bem os símbolos. Usem-nos mais e mais, e descobrir-se-ão num estágio onde já não precisarão deles. A mente humana consegue alcançar qualquer ponto do Universo imediatamente."

Mikao Usui

*pemba – espécie de pequeno giz calcário em formato oval fabricado com diversos componentes


Vitorino Camelo e Frederico Castro - A.T.U.P.O.


A ESCRITA SAGRADA - PARTE 1


A Escrita Mágica

Na sua origem, o Homem utilizou a escrita e o desenho como meio de expressão e de comunicação para consigo e com os seus semelhantes. Actos de admiração, valentia, luta, transformação, caça, louvação... Todos estes aspectos o Homem transformava em algo visível para que pudesse cultuar seus actos ou cultuar os seus Deuses. Através deste tipo de representação, trocava mensagens, passava ideias e transmitia os seus desejos, as suas necessidades e os seus temores.

A origem da escrita surgiu assim no início da nossa caminhada – a pré-história.

Ao longo dos tempos, a escrita foi-se desenvolvendo e transformando mediante o crescimento de cada povo, de cada ser. A escrita manteve a sua forma de meio de comunicação e expressão de conhecimento ao longo dos séculos, pois nos seus inícios a escrita teve uma conexão com o mágico, o espiritual, com os Deuses e com o Divino. A escrita usada pelos sírios, hebreus e persas, surgiu ligada às necessidades de contabilização dos seus templos. Era uma escrita ideográfica, na qual o objecto representado expressava uma ideia. Os sumérios e mais tarde, os babilónicos e os assírios fizeram uso extensivo da escrita cuneiforme ( foi desenvolvida pelos sumérios e é a designação geral dada a certos tipos de escrita feitas com auxílio de objectos em formato de cunha. Fonte: Wikipédia).

Mais tarde, os sacerdotes e escribas começaram a utilizar uma escrita convencional, que não tinha nenhuma relação com o objecto representado. As convenções eram conhecidas pelos encarregados da linguagem culta, que procuraram representar os sons da fala humana, isto é, cada sinal representando um som. Surgia assim a escrita fonética, que pelo menos no segundo milénio a.C., já era utilizada nos registos de textos religiosos e rituais mágicos.

A civilização Egípcia teve um grande poder na ligação da escrita com os Deuses e com os seus rituais. Os faraós eram considerados Deuses vivos. Acreditava-se que estes governantes eram filhos directos do Deus Osíris, portanto agiam como intermediários entre os Deuses e a população Egípcia. Ainda em vida, o Faraó começava a construir a sua pirâmide, devendo preparar o túmulo para o seu corpo. Este povo, acreditando na vida após a morte, utilizava a pirâmide para guardar, em segurança, o corpo mumificado do Faraó e os seus tesouros. No sarcófago era colocado também o livro dos mortos, onde constavam todas as acções positivas que o Faraó fez em vida. Esta espécie de biografia era importante, pois os Egípcios acreditavam que Osíris (Deus dos mortos) iria utilizá-la no seu julgamento final. A escrita foi, neste e noutros aspectos, de importância fundamental para este povo, permitindo a divulgação de ideias e uma comunicação elaborada e eficaz. Existiam duas formas principais de escrita: as escritas demóticas (mais simplificadas e usadas para assuntos do quotidiano) e a hieroglífica (mais complexa e formada por desenhos e símbolos). As outras formas de escrita gravavam textos mais vulgares; os hieróglifos, tais como as diferentes esculturas e monumentos, aspiravam à eternidade. Os templos, as colunas e os obeliscos Egípcios, são livros abertos para quem os saiba ler. A Escrita Hieroglífica deriva da composição de duas palavras gregas – hiero «sagrado», e glyfus «escrita», traduzindo-se livremente como “inscrição sagrada”. Apenas os sacerdotes, membros da realeza, altos cargos, e escribas conheciam a arte de ler e escrever esses sinais "sagrados". Esta escrita constitui, provavelmente, o mais antigo sistema organizado de escrita no mundo, e era vocacionada, principalmente, para inscrições formais nas paredes de templos e túmulos.

Outra civilização que utilizava a escrita hieroglífica era a civilização Maia. Além de constituir uma forma de comunicação entre os Maias, a escrita também tinha um vínculo religioso. Estes acreditavam que a escrita era um presente dos deuses e, por isso, deveria ser ensinada a uma parcela privilegiada da população. De um modo geral, utilizavam diferentes materiais para o registo de alguma informação, tais como pedras, madeira, papel e cerâmica. O sistema de escrita Maia (geralmente chamada hieroglífica por uma vaga semelhança com a escrita do antigo Egipto, com o qual não se relaciona) era uma combinação de símbolos fonéticos e ideogramas.

Outro ponto fundamental demonstrativo da importância da escrita é a história do povo Hebreu na qual os Dez Mandamentos ou o Decálogo, nome dado ao conjunto de leis que, segundo a Bíblia, teriam sido originalmente escritas por Deus em tábuas de pedra e entregues ao profeta Moisés (as Tábuas da Lei). Foram várias as civilizações em que, ao longo da sua história, a escrita representou um papel importante no seu crescimento e principalmente como meio de ligação ao Divino.

A escrita sagrada dos Druidas – a escrita Rúnica - não se sabe exactamente como surgiu ou como foi criada; no entanto, existem registos de descobertas arqueológicas que datam de 1.300 a.C. As descobertas que mais se destacaram abrangem um período que se estende de 200 a.C até o final da Idade Média, desde a Islândia até a Roménia, do Báltico ao Mediterrâneo. Os Druidas dominavam quase todas as áreas do conhecimento humano. Cultivavam a música, a poesia, tinham notáveis conhecimentos de medicina natural, de fitoterapia, de agricultura e astronomia, e possuíam um avançado sistema filosófico muito semelhante ao dos neoplatônicos. O povo celta tinha uma tradição eminentemente oral, não fazendo uso da escrita para transmitir seus conhecimentos fundamentais, embora possuíssem a escrita Rúnica. As Runas eram identificadas como símbolos sagrados gravados ou talhados em metal, osso, pedra e couro. Mesmo não usando a escrita para gravar seus conhecimentos, eles possuíam suficiente sabedoria a ponto de influenciarem outros povos e assim marcar profundamente a literatura da época, criando uma espécie de aura de mistério e misticismo que perdura até hoje.

Também devido a esse facto as Runas - consistindo em símbolos com palavras que os denominam, e sons equivalentes – passaram a ser utilizadas para propósitos mágicos, em jeito de codificação de evocações magísticas, conhecidas apenas por alguns. As combinações alfanuméricas, devidamente utilizadas, serviam diversos trabalhos, das curas às maldições. Dentro da perspectiva mitológico/sagrada, o surgimento das Runas é atribuído à Odin, a divindade máxima do panteão nórdico. À semelhança de como muitos xamãs ainda fazem nos dias de hoje, Odin submeteu-se a uma experiência de "retorno da morte", para alcançar uma espécie de "iluminação". Este estado de transcendência (por vezes conquistado por acaso em acidentes ou doenças que conduzem o indivíduo ao um limite da sua existência), na maioria das práticas xamânicas, rituais, transes profundos, ou danças sagradas é conduzido de forma categórica. Eram utilizadas nos processos oraculares, às práticas talismânicas e à manipulação de forças naturais e sobrenaturais. São inúmeros os registos arqueológicos de Runas cravadas em armas, batentes de portas e chifres utilizados como cálices, entre tantos outros objectos, o que confirma a fé dos povos setentrionais na protecção que estes símbolos ofereciam. Lendas e testemunhos históricos dos primeiros romanos em terras nórdicas revelam o uso destes vinte e quatro símbolos, na predição do futuro e nas tentativas, nem sempre felizes, de alterá-lo.

Outro método que utiliza a escrita e os símbolos como pontos magísticos, com origem no Oriente, é o Reiki. Segundo os ensinamentos dos mestres, o Homem mantinha os seus canais de circulação de energia intactos, e os seus instintos básicos de sobrevivência de forma genuína, o que gerava um estado de felicidade e harmonia pleno. Com o desenvolvimento, fomos desligando a nossa ligação às origens e ficámos individualistas, enfraquecendo assim os canais de ligação com o Cosmo. Os símbolos do Reiki, em unificação, correspondendo aos cinco níveis da mente, permitiriam alcançar o caminho da iluminação, conhecido pelos budistas, por Nirvana. O uso original desses yantras (símbolos) não foi vocacionado originalmente para a cura material, mas para conduzir à iluminação da ajuda ao próximo. No entanto, associados esses símbolos a mantras (preces) e a mudras (na mimetização dos símbolos) foram descobertas novas potencialidades no que respeita à canalização de energia.

A “Escrita Mágica”, de um modo geral, povoou desde tempos imemoriais praticamente todas as civilizações, mais ou menos eruditas. Este facto levou também a que alguns desses símbolos perdurassem até aos dias de hoje, sendo mesmo utilizados de forma corrente...

Vitorino Camelo e Frederico Castro - A.T.U.P.O.


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A UMBANDA É BRASILEIRA...


A UMBANDA É BRASILEIRA ?!?!?!?!?!?!?!

Sim e ponto final.

A Umbanda nasceu no Brasil com local e hora marcada, mas hoje a Umbanda não é SÓ brasileira!

A Umbanda cada vez mais salta muros e barreiras, quebra tabus e atravessa fronteiras e torna-se de facto uma religião do mundo. A Umbanda, e fazendo uma analogia com a botânica, é como uma grande árvore, vamos ver: para se “criar” uma árvore, o que precisamos? SEMENTES, TERRA e ÁGUA… Na Umbanda, foi da mesma maneira: podemos chamar SEMENTES à sua raiz africana; podemos intitular de TERRA a ascendência indígena, dos índios até ai selvagens e de ÁGUA a parte dos precursores europeus que lhe deram forma, vida. Nesta adição de elementos, não adianta tirar ou substituir nenhum dos elementos, porque caso contrário, o resultado nunca seria o mesmo, experimentem!

A Umbanda é assim mesmo: é fusão, é assimilação, é miscigenação, é a busca do melhor que temos em nós, sem olhar à cor, raça, credo ou estrato social, tudo em prol de um BEM MAIOR, de IGUALDADE, num mundo cada vez mais assimétrico; do AMOR, num mundo cada vez mais egoísta; e da FÉ redentora, que por vezes, se rende à vaidade e ao dinheiro.

A planta germinou e, no meio de muitas outras que também estavam ali para vingar, começou a tomar corpo. Os tempos nem sempre foram favoráveis, porque períodos houve em que os terreiros eram cadastrados na sede da polícia local, bem ao lado de qualquer prostíbulo e muitas vezes perseguidos pelos residentes menos informados acerca da religiosidade ali praticada. Mas são estas dificuldades que nos fazem crescer cada vez mais e melhor.

A Umbanda cresceu, fez-se adulta e assim espalhou as suas raízes por todo o Brasil, chegando a todos os cantos onde há terra para viver. Já adulta, e na sua maturidade quase centenária, chegaram os ventos da propagação, foram ventos que chegaram, fruto da difusão do povo brasileiro num mundo cada vez mais pequeno e também de uma globalização à escala planetária, quase inevitável.

Hoje, essa árvore adulta e com os ventos a favor espalha por todo o mundo todas essas sementes que saíram dela própria, sementes essas que, por seu lado, já começam a germinar e algumas a formar corpo também.

Cruzando os imensos charcos que ladeiam a América, as sementes chegaram mesmo a outros continentes. Curiosamente, é em terras africanas que as sementes mais têm encontrado relutância em proliferar, mas, se já vi um grupo de Capoeira em plena capital senegalesa e praticada por habitantes locais, quer dizer que … quem sabe um dia destes… . Mesmo porque já vimos entidades da Umbanda a pisar as terras vermelhas australianas, já ouvimos o som dos atabaques no continente asiático, mais propriamente em solo nipónico. Na América do Norte, os índios de peles vermelhas já dão lugar aos da Amazónia através dos nossos Caboclos e no velho Continente, nessa panóplia de culturas e raças, encontramos o Axé espalhado por países culturalmente tão díspares como Portugal e Áustria, Espanha e Holanda, Inglaterra e Suíça, Alemanha e Escócia ou ainda, como França ou Suécia.

Hoje, de facto, a Umbanda é brasileira, mas só mesmo porque nasceu lá. Porque cada vez mais está a crescer e cada vez mais é uma Religião do MUNDO!


A.T.U.P.O. - Fernando Henrique

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

FUMAÇA SAGRADA


“A FUMAÇA SAGRADA”

Em eras remotas, o cigarro tinha o dom de afugentar os maus espíritos. Em sagradas pajelanças, guerreiros recebiam lufadas de fumo exortando a força e a coragem. Fumar simbolizava comunhão, o cachimbo da paz, pórtico de enlevo para os céus, nos luares de todos os sertões. Curandeiros presidiam cultos utilizando-se do tabaco, e o fumo e seu incenso irmanavam cânticos e danças em litúrgicas bênçãos. (Romildo Sant’Anna)

O Homem utilizou desde sempre o fumo e os seus odores sob a forma de oferendas, em agradecimento aos seus Deuses e, também, como meio de purificação de ambientes, pessoas e depuração das energias.

Desde a antiguidade que as libações de incenso são utilizadas, e hoje como antes, os efeitos de um bom incenso, preparado magicamente, podem ter os mais variados usos, trazendo paz de espírito, prosperidade e limpeza. Associa-se o uso dos incensos à purificação e à elevação a Deus, gerando a fumaça bem-estar e protecção. Encontramos, assim, a origem do uso xamânico do fumo como "Erva Sagrada" enteógena (que leva a Deus).

Na espiritualidade, o poder do incenso mostra-se ainda mais amplo e a sua função de limpeza imprescindível, num conjunto de energias transmutadas de ervas, litúrgicas ou não, que, de acordo com suas funções, ocasionam uma grande mudança na nossa percepção e disposição, porque o incenso limpa e facilita o nosso acesso a um padrão vibratório mais propício à prática litúrgica.

Se a defumação é sagrada e consagrada pelo mundo inteiro, desde os monges tibetanos até os padres católicos, o turíbulo (pequeno incensário feito de metal ou barro) do Guia é o charuto, o cachimbo ou o cigarro. Faz parte da cultura indígena e, por extensão, da Umbanda. Não devemos confundir a fumaça do charuto com a defumação através de ervas. Ambas têm funções importantes na religião, mas são usadas de forma diferente pelos guias espirituais. Estes não fumam no sentido vulgar da palavra, usam o fumo e a fumaça para fazer uma defumação direccionada, unindo o sopro, intenção e elemento para alcançar o resultado pretendido, seja pelo charuto do caboclo ou do exu, pelo cachimbo do preto-velho ou pelo cigarro do baiano. Para os xamãs “pelo sopro Deus fez o homem”; o sopro, nosso vento pessoal, é um dos mais importantes ingredientes de cura para os xamãs e para muitas outras tradições, pois o sopro liberta-nos, dá-nos vida. O fumo comporta em si os 4 sagrados elementos; terra (pela sua origem vegetal), fogo (quando aceso), ar (onde se desenvolve a fumaça) e água (na sua humidade relativa). Estes elementos e a sua transmutação serão abordados em artigo a publicar oportunamente, cabendo-nos agora centrarmo-nos no uso do fumo litúrgico nos seus diversos aspectos.

PARTE I: Fumaça e Defumação

Ninguém sabe quando a humanidade começou a usar as plantas aromáticas. Há evidências do período Neolítico de que ervas aromáticas eram usadas em culinária e medicina, e que ervas e flores eram enterradas com os mortos. A fumaça ou fumigação foram provavelmente um dos usos mais antigos das plantas, como parte de oferendas rituais aos deuses. Gradualmente, um conjunto de conhecimentos sobre as plantas foi acumulado e passado a centenas de gerações de xamãs, assim como as lendas associadas à Criação, como a mítica história das deusas pássaro. Eram utilizadas em rituais religiosos e mágicos, assim como nas artes curativas.

Origens e Religiosidade

Os sacerdotes e sacerdotisas Egípcios eram as únicas pessoas que tinham acesso a estas preciosas substâncias. Quando o Egipto se fez um país forte, os seus governantes importaram de terras distantes incenso, sândalo, mirra e canela. Os faraós congratulavam-se em oferecer às deusas e aos deuses enormes quantidades de madeiras aromáticas, gomas, resinas e perfumes de plantas, queimando milhares de caixas desses materiais preciosos. Todas as manhãs as estátuas eram untadas pelos sacerdotes com óleos aromáticos. Queimava-se muito incenso nas cerimónias do templo, durante a coroação dos faraós e rituais religiosos. Queimavam-se também em enterros, para neutralizar odores e afugentar maus espíritos.

Os Sumérios ofereciam bagas de junípero como incenso à deusa Inanna. Mais tarde, os Babilónios perduraram rituais, queimando esse suave aroma nos altares de Ishtar. Acreditava-se que a direcção que a fumaça levantava determinaria o futuro – se a fumaça se movesse para a direita, a resposta era o êxito; se movesse para a esquerda, a resposta era o fracasso.

A Aromaterapia tem sido uma parte essencial do ritual religioso hindu e budista desde o tempo dos Vedas, cuja idade pode ser estimada em 5.000 a.C. O incenso favorece um estado meditativo, por isso ele também foi incorporado pelos budistas, que são naturalmente adversos a rituais externos. É usado na iniciação de lamas e monges e é oferecido aos bons espíritos nos cultos diários.

Os Gregos e Romanos acreditavam que as plantas aromáticas procediam dos deuses e deusas. Queimavam o incenso como obrigação e para protecção das casas. Em Roma, usava-se nas ruas e em especial na adoração do Imperador. O povo chegou a consumir tantos materiais aromáticos que, no ano de 565, foi decretada uma lei que proibia utilizar essências aromáticas pelas pessoas, com medo de não se ter suficiente incenso para queimar nos altares das divindades.

Os nativos Americanos, vivendo em harmonia com a terra, sempre a reverenciaram como geradora de vida. Desde há muito que conhecem as propriedades de cura das plantas, usadas em tendas de suor, dança do tambor, etc. Queima-se salva branca, cedro, pinho e resinas para limpeza de objectos e rituais de adoração. São usadas para a saúde e o bem-estar da tribo.

Também para o povo Judeu, o incenso tinha um significado de honra a Deus ou a um Rei. Diz o Salmo 140: "Que minha oração suba até vós como o fumo do incenso." (v.2) Na sua Sagrada Liturgia, o incenso passou a incensar o Santíssimo Sacramento e demais sinais litúrgicos (o altar, a cruz, as santas imagens, os sacerdotes, os fiéis), e passou a ter um simbolismo litúrgico próprio. De acordo com o Zohar (livro sagrado para os judeus cabalistas), oferecer incenso é a parte mais preciosa do serviço do Templo para os olhos de Deus. A honra de conduzir este serviço é permitida somente uma única vez na vida. Diz-se que quem teve o privilégio de oferecer o incenso está recompensado pela sorte com riqueza e prosperidade para sempre, neste mundo e no seguinte.

Na Idade Média, os boticários queimavam ervas e sais contra a peste.

E como esquecer a maravilhosa história Cristã dos três Reis Magos, que presentearam com o Líbano e a Mirra o Mestre Jesus, quando ele nasceu?

Essas resinas aromáticas tornaram-se essências, transformadas em incenso, de grande importância e fragrância.

A defumação nas religiões Afro-brasileiras

Para o índio nativo, o fumo provinha de plantas sagradas e a sua fumaça curava as doenças, proporcionando o êxtase, dando poderes sobrenaturais e pondo o pajé em comunicação com os espíritos. Deste modo, podemos considerar que a adopção da fumaça como um elemento ritual importante e depois como terapia é uma herança do xamanismo. Deste, foram preservadas as ervas e raízes nativas como base dos trabalhos e na prática da fumigação magisticamente preparada.

Um dos primeiros fundamentos litúrgicos encontrados em algumas religiões como o Tambor-de-Mina, o Catimbó, ou o Batuque é o uso da defumação para curar doenças ou o emprego do fumo para entrar em estado de transe, no sentido da comunicação com o mundo dos espíritos, entre os quais a alma viaja durante o êxtase.

Estas influências indígenas vão ter reflexo, mais tarde, nos Candomblés de Caboclo e, anos depois, na Umbanda, carregando esta, de igual modo, também uma herança transposta quase directamente da cultura indígena para a sua liturgia específica.

A defumação na Umbanda

A defumação é essencial para qualquer trabalho num terreiro de Umbanda, bem como nos ambientes domésticos. Este ritual é praticado com o objectivo de purificar o ambiente (terreiro/residência), bem como o corpo do médium e a assistência (pessoas que irão participar da gira), purificando e depurando as energias existentes e preparando o local para que o trabalho possa decorrer em harmonia.

A defumação é feita com carvão em brasa, dentro de um turíbulo (pequeno incensário feito de metal ou barro), colocando-se no recipiente as ervas secas escolhidas. Ao queimarmos as ervas, libertamos em alguns minutos de defumação todo o poder energético aglutinado em meses ou anos absorvido do solo da Terra, da energia dos raios de sol, da lua, do ar, além dos próprios elementos constitutivos das ervas. Deste modo, projecta-se uma força capaz de desagregar miasmas e larvas astrais que dominam a maioria dos ambientes humanos, produto da baixa qualidade de pensamentos e desejos, como raiva, vingança, inveja, orgulho, mágoa, etc.

Existem diferentes tipos de ervas para cada objectivo que se tem ao fazer-se uma defumação que, associadas, permitem energizar e harmonizar pessoas e ambientes, pois ao queimá-las, produzem reacções diversas no plano imaterial. Há vegetais cujas auras são agressivas e repulsivas, e que afastam alguns desencarnados de vibração inferior, servindo de barreiras fluídico-magnéticas.

Outros, harmonizando o ambiente, ajudam o médium e o consulente a captarem com mais qualidade as energias superiores, mantendo a mente da pessoa mais concentrada e propícia a esta percepção.

A Defumação é assim um processo activo do exercício da mediunidade de cada um e parte importante da Liturgia da Umbanda, devendo ser feita com muito rigor e cuidado.


“A FUMAÇA SAGRADA”

PARTE II: “Fumaça de Sopro”

“Quando o mundo ainda não estava pronto, já havia Imîkoho-yeki, o Avô do Mundo. Ele andava sozinho enquanto pensava em como ordenar o mundo.

Sem encontrar solução, ele foi à Casa do Céu. Lá, acendeu um cigarro enquanto meditava. Foi então que da fumaça do cigarro surgiu uma mulher. Ela era Ye'pâ-masó, aquela que seria conhecida como a Avó do Mundo e do Surgimento.

O Avô do Mundo ficou contente e entregou à mulher os instrumentos da vida e do “surgimento” que possuía: cigarros, cuias, um banco, e outras coisas. A Avó do Mundo, Ye'pâ-masó, desceu até a terra, onde surgiram três bancos com os desenhos do “banco da vida”. Ela sentou-se e começou a fumar o seu cigarro.

Da primeira baforada surgiram Imîkoho-masí e Ye'pa-masí. Os dois foram os primeiros a viver na terra e deram início a todos os homens que vieram depois. (…)”

(História da Criação do Mundo dos índios Tukano, que vivem na região noroeste do Amazonas, perto do rio Uaupés.)

O hábito de fumar (folhas de tabaco ou outras plantas) já era bastante antigo entre alguns grupos indígenas, autóctones, como atestam alguns cachimbos encontrados em escavações arqueológicas, pressupondo o uso religioso e ritual do fumo. Por outro lado, há relatos do uso do tabaco entre os indígenas desde a chegada dos primeiros europeus ao continente Americano. O registado foi que os índios "bebiam fumo", já que o verbo "fumar" só passou a ser utilizado a partir do século XVII.

A partir da Conquista, o uso do tabaco espalhou-se rapidamente por todo o território Americano. Vários grupos indígenas que não costumavam fumar passaram a fazê-lo, assim como os escravos provenientes da diáspora negra africana e o próprio europeu, adaptado a novos costumes numa nova terra. A finalidade do uso do tabaco também se alterou na generalização do seu consumo, e os indígenas passaram a fumar mais no dia-a-dia para recreação e prazer, para além do uso ritualístico como propósito inicial.

Sequencialmente, alguns integrantes da expedição de Cristovão Colombo levaram o tabaco para a Europa, e rapidamente se espalhou o gosto pelo seu uso.

Apesar de ter sido um padre francês, André Thévet, quem introduziu e começou a cultivar o tabaco no sul de França, quando o tabaco chegou à Europa muitos viram no uso dessa planta um pecado (talvez pela relação com a passagem bíblica na qual Jesus diz que o “mal é o que sai da boca do homem”). Em 1603, James I da Inglaterra proíbe o tabaco "cujo fumo negro e fedorento evoca o horror de um inferno cheio de carvão e sem fundo". Na Rússia, o tzar Miguel Fedorovich fazia cortar os narizes dos tomadores de petún (palavra tupi que significando “fumo”, servia na época para chamar o tabaco moído para aspirar, ou “rapé”). A Igreja Católica também actuou e em 1621, Urbano VIII excomunga os fumadores dizendo-os culpados de usar uma substância tão degradante para a alma como para o corpo. Apesar do estigma demoníaco que durante esse século recaiu sobre o tabaco, o médico francês Jean Nicot utilizou a planta para curar as enxaquecas de Catarina de Médicis, a esposa do rei Henrique II, e o uso popularizou-se tanto que hoje conhecemos a planta pelo nome com que o botânico sueco Lineu homenageou seu divulgador: Nicotiniana tabacum. Em 1732 o Papa Bento XIII, fumante inveterado, revogou os éditos que proibiam o uso da planta no mundo cristão, enquanto a Rússia, a Turquia e a China ainda sentenciavam aos fumantes com a pena capital.

A diferença radical entre o uso tradicional e litúrgico do tabaco e o consumo do cigarro industrial consiste em que, nas culturas indígenas, o uso do tabaco propõe finalidades rituais e terapêuticas. O tabaco, sendo uma planta mágica para os povos nativos, porque "torna visível o alento", está presente em grande parte da tradição ancestral, nas lendas e mitos dos povos indígenas. O propósito do uso litúrgico tabaco consiste em expelir a fumaça do cachimbo, cigarro ou charuto, com finalidade determinada, contrariamente ao consumo rápido do fumo do cigarro, compulsivamente aspirado.

O Uso Litúrgico do “fumo soprado”

O fogo foi reconhecido pelos antigos habitantes da América e Ásia como um transmutador e libertador do poder de certas substâncias, tornando-as mais activas. Tinham diferentes misturas fumáveis dependendo das necessidades do ritual e da estação. O tabaco era utilizado por suas propriedades para concentrar o pensamento em si mesmo ou em algum assunto específico, o qual era uma preparação prévia para poder escutar aos espíritos guias, aos espíritos da natureza e aos seres que habitam em outras dimensões ou planos de consciência.

O fumo era considerado assim pelos povos primitivos como um elo de ligação do Homem com os seres sobrenaturais. A fumaça, subindo aos céus, transportava preces místicas.

Entre os índios Pampas existia uma cerimónia em que o feiticeiro da tribo, possuído pelo "anhangá-tupi" e depois de se ter regalado com um ovo de ema, aspirava fumo até se extasiar com sua "essência sagrada". Pela boca do adivinho, "anhangá" dava conselhos à tribo, sendo depois aclamado por todos. Entre as tribos norte-americanas, o fumo também estava intimamente ligado ás cerimónias religiosas e para eles, era considerado sagrado. As tribos do norte estendiam a veneração desta ao aparelho chamado "calumet" (ou cachimbo-da-paz), que, quando soprado contra o sol, imprimia um cunho religioso a todas os pactos políticos e sociais. Uma parte importante na sacralidade de fumar estava no seu uso em grupo, dentro de uma cerimónia, para estreitar os laços entre grupos ou pessoas. O fundamento estava na mistura e integração das diversas energias ao inalar a mesma fumaça. No términos de uma guerra tribal, passar o cachimbo-da-paz era uma forma de cimentar a união, e deixar de lado as diferenças.

Os antigos indígenas acreditavam que as plantas nativas das diversas regiões teriam sido criadas pelos espíritos da natureza para satisfazer as necessidades específicas das pessoas e animais nativos de cada área. Nestas circunstâncias se depreende que as diferentes tribos faziam uso de diferentes plantas para um fim semelhante, dependendo da localidade e do propósito da cerimónia, sabendo os xamãs quais delas utilizar, para cada ocasião. A salva, com pelo menos 20 variedades distintas, tal como outros ingredientes comuns como a lavanda ou o girassol, e cascas de diferentes árvores e plantas secas imbuídas de propriedades psico-activas, eram amplamente utilizadas. Cada uma delas era recolhida com mesura pelos xamãs que sabiam quais eram as suas atribuições, quando podiam ser colhidas e como secá-las ao sol para que absorvessem suas propriedades energéticas. Nos rituais de preparação, o tabaco e todas estas plantas eram alteradas, purificadas e elevadas de vibração com o auxílio de preces e invocações aos espíritos.

Estes conhecimentos, procedendo de origem ameríndia, como refere Antoine Yan Monory, iriam influenciar o uso também tradicional do fumo nos cultos religiosos afro-brasileiros, sem dúvida ligado ao facto dos negros escravizados, além do contacto com os costumes indígenas, terem sido a principal mão-de-obra no cultivo das plantações de tabaco.

A “fumaça de sopro” nas religiões Afro-brasileiras

Curandeiros presidiam cultos utilizando-se do tabaco, e o fumo e seu incenso irmanavam cânticos e danças em litúrgicas bênçãos. Exaltando seus vigores curativos, Manuel da Nóbrega escreveu que Deus remediou nossas dificuldades “com uma erva cujo fumo muito ajuda à digestão e a outros males corporais, e a purgar a fleuma do estômago”. (Romildo Sant’Anna)

A fumaça utilizada como limpeza é a mais antiga e é também a mais popular do meio xamânico, para purificar pensamentos, sentimentos e espíritos.

Esta herança marca a sua presença directa, como já foi referido, em algumas religiões como o Tambor-de-Mina, o Catimbó, ou o Batuque, com influência mais tardia nos Candomblés de Caboclo e na Umbanda, pelo emprego do fumo “soprado” para curar doenças, como instrumento de trabalho do mundo dos espíritos.


A “fumaça de sopro” na Umbanda

Se todas as plantas são consagradas por Ossãe, não poderemos deixar também de estabelecer uma certa ligação da utilização do fumo dessas folhas com Omulu e Obaluaiê, na sua ligação e atribuições entre a doença e a cura.

Dentro do conceito elemental, o fumo é o vegetal que traz os elementos terra e água, e que, quando utilizado pelas entidades espirituais em seus instrumentos de fumaça, adiciona os elementos ar e fogo.

Estas entidades não “fumam” no sentido vulgar da palavra; usando o fumo para fazer uma defumação direccionada, unindo o sopro, intenção e elemento para alcançar o resultado ambicionado.

O Sopro por si só traz efeitos terapêuticos e espirituais extraordinariamente eficazes nos trabalhos de cura e limpeza. Potenciado pelo fogo imantado com essência das plantas, cria através da “fumaça soprada” pelas entidades, aliada ao pensamento e à reflexão interior, processos físicos que restauram o equilíbrio e harmonia, desagregando energias de baixa vibração.

Além disso, o fumo ajuda também na criação de ambientes vibratórios específicos ao trabalho dos guias de Umbanda, nas suas variadas atribuições e capacidades.

A “fumaça de sopro” é assim um instrumento de trabalho altamente magístico, e o seu uso pelas entidades deve ser muito respeitado.

Se nem todas estas atribuições e conceitos fazem parte de um consenso dentro do Universo Umbandista, também é verdade que tais factos devem ser estudados e analisados, além de sensibilizados médiuns, assistentes, simpatizantes e outros que por um motivo ou por outro são deparados com uma gira de Umbanda, para que não se caia no erro de desmantelar a verdadeira caridade prestada pelas entidades e mentores espirituais que, utilizando as ferramentas que lhes são oferecidas, se esforçam por trazer aos seus filhos de fé um bálsamo para suas dores.

A.T.U.P.O. – Vitorino Camelo

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Uma pequena LEMBRANÇA aos......ORIXÁS


Gostaria de lembrar que os Orixas devem ser homenageados em todos os dias de nossas vidas, não apenas como Divindades da Umbanda, mas cultuados em nosso Ser, fazer com que realmente cada Orixá faça parte de nós.

Então eu diria que temos que Ser: Como Exu, e levar aos Orixás, os pedidos do Homem e trazermos ao Homem o merecimento de seu pedido, ou o caminho para ser alcançado.

A força de Ogum para nunca desistirmos do que acreditamos;

Amarmos a todos verdadeiramente como Oxum mostra em alguns mitos;

Sermos como Oxoce, o eterno caçador que busca dentro e fora de seus domínios;

Justos com tudo e todos, mesmo que a verdade nem sempre esteja do lado que gostaríamos, assim ensina Pai Xangô;

Lembrarmos que Iemanja, é Mãe que dá a vida, cuida, que educa e que prepara-nos para vencer;

A Cura de Obaluaie está também em reflectirmos sobre nossas imperfeições, e tentarmos curar algumas feridas e doenças como: Egoísmo, medo, falsidade, mentira e tantas outras;

Devemos acreditar que somos capazes, e ter Fé em Oxalá de que tudo é possível, e que o limite é aquele em que acreditamos, e como consequência até onde chegamos...

Onde queremos chegar?


Que Oxalá vos abençoe,


Pai Cláudio de Oxalá - A.T.U.P.O

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Mediunidade


A Mediunidade

Uma das características da Umbanda que mais fascina e, simultaneamente, mais assusta as pessoas que frequentam um Templo Umbandista é a mediunidade; mais especificamente as incorporações.

O termo mediunidade foi criado pelo codificador do espiritismo, Allan Kardec, no final do século XIX, querendo assim designar a capacidade do ser Humano em comunicar-se com o plano astral, sendo designado por médium todo o indivíduo capaz de servir de meio de comunicação ou intermediário entre o plano físico e o plano astral. O fenómeno mediúnico caracteriza-se pela cedência do corpo e da mente, por parte do médium a outra inteligência, a outro espírito. Ou seja, o médium percebe ou capta a presença de espíritos, de seres e de energias de outros planos astrais.

Aqui coloca-se uma questão: todas as pessoas são médiuns? Existe alguém que de alguma forma não tenha alguma interacção, ou que não sofra nenhuma influência de outros planos, dos espíritos, e que por tal não seja considerado médium? Certamente a resposta será que, de uma forma ou de outra, sempre seremos influenciados, e sentiremos a presença de outras energias e espíritos, considerando-se por isso que todos os seres humanos são médiuns. No entanto, é necessário distinguir a “mediunidade comum” da “mediunidade de trabalho”. Para além da intuição e da sensibilidade às energias que nos rodeiam, que são consideradas as manifestações mais comuns da mediunidade e que todos possuímos em maior ou menor grau, existem outras formas de manifestação da mediunidade que permitem que um individuo sirva de meio de comunicação directa entre os planos astral e físico, possibilitando que os espíritos, guias ou entidades expressem a sua vontade, força e palavras de forma inteligível. São estas formas de mediunidade que são consideradas “mediunidade de trabalho” entre as quais contamos com a incorporação, a vidência, a psicografia, a mediunidade de cura, entre outras. Mas é importante esclarecer que a “mediunidade de trabalho” em hipótese alguma constitui um dom ou uma dádiva ou torna alguém melhor, mais especial ou abençoado que os seus semelhantes. É sim, uma faculdade que nos foi atribuída por Deus, para que através da mesma possamos resgatar as nossas dívidas kármicas e simultaneamente transmitir a vontade e a força dos Orixás, permitindo que outros espíritos possam receber a ajuda das energias divinas e evoluir. Ou seja, o médium é um espírito igual a todos os outros, e como todos, deve buscar o seu aprimoramento, abdicando das suas vaidades, orgulhos e do seu egoísmo. É um ser que dentre inúmeras ferramentas que os Orixás nos dão, recebe a ferramenta chamada mediunidade. Mas, ao mesmo tempo em que não é um dom com certeza é uma responsabilidade, pois deverá fazer bom uso da sua faculdade. Se a mediunidade é um instrumento, uma ferramenta, cabe a cada médium, utilizá-la com muita fé, amor e responsabilidade. Ser médium implica uma profunda reforma íntima, designadamente a nível moral, de valores e atitudes, ou seja, da forma de ser e estar na vida. Assumir a responsabilidade do exercício da mediunidade é assumir o caminho da rectidão, da fé e do amor incondicional.

Muito mais há para dizer sobre a mediunidade, mas fica para uma próxima oportunidade.

Que Oxalá abençoe e ilumine a todos.

A.T.U.P.O. - Bernardo Cruz

Oxum se transforma em pavão e abutre


Lenda de Oxum

Oxum se transforma em pavão e abutre

Olorum, ofendido pela rebeldia dos orixás, prende a chuva no orum (Céu), deixando que a seca e a fome se abatam sobre o aiê (a Terra). Os orixás, revoltados com tal atitude, foram suplicar-lhe que devolvesse a chuva à terra, não tendo no entanto conseguido o perdão de Olorum. Oxum oferece-se para ir ao Orum falar com Olorum. Gozada pelos outros orixás, que não acreditavam que ela conseguisse tal feito, Oxum transforma-se em pavão, voa até ao Deus Supremo, para suplicar ajuda. À medida que vai aproximando-se do sol, as suas penas enegrecem e caem e os raios vão queimando sua pele.Fica de tal forma queimada pelo sol e sem penas, que de um pavão belo e majestoso passou a ser um abutre.No entanto, alcança o Orum e quando chega a casa de Olorum, este lhe pergunta o porquê de tal sacrifício. Ela lhe responde que enfrentou o perigo pelo amor à humanidade e às crianças. Então,Olorum, comovido pela determinação e bravura de Oxum, devolve a chuva ao Aiê, tornando as terras férteis e prósperas outra vez!


Esta lenda mostra, através de uma linguagem simples e inteligível, o que o Orixá Oxum representa: a energia do Amor, o amor pela humanidade, pelos irmãos, a energia do amor maternal, o amor de mãe, que ampara, que protege, que pelos seus filhos enfrenta qualquer perigo; é a energia que comove, que faz chorar e que conquista a riqueza e abundância; é o Orixá ligado à concepção da vida, é a energia da fertilidade, fecundidade, representada pela água que volta à terra, tornando-a de novo rica e fértil, para ser fecundada, ganhar vida e tornar-se próspera de novo!


A.T.U.P.O. - Mary Nogueira

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Uma Lenda de Obaluaiê / Omulu


Uma Lenda de Obaluaiê / Omulu

<!--[if !supportLists]--> <!--[endif]-->Um dia, caminhando pelo mundo, Obaluaiê sentiu fome e pediu às pessoas de uma aldeia por onde passava que lhe dessem comida e água. Mas as pessoas, assustadas com o homem coberto desde a cabeça com palhas, expulsaram-no da aldeia e não lhe deram nada.

<!--[if !supportLists]--> <!--[endif]-->Obaluaiê, triste e angustiado, saiu do povoado e continuou pelos arredores, observando as pessoas. Durante este tempo, os dias esquentaram, o sol queimou as plantações, as mulheres ficaram estéreis, as crianças cheias de varíola, os homens doentes. Acreditando que o desconhecido coberto de palha amaldiçoara o lugar, imploraram seu perdão e pediram que ele novamente pisasse na terra seca.

<!--[if !supportLists]--> Ainda com fome e sede, Obaluaiê atendeu ao pedido dos moradores do lugar e novamente entrou na aldeia, fazendo com que todo o mal acabasse. Então homens o alimentaram e lhe deram de beber, rendendo-lhe muitas homenagens. Foi quando Obaluaiê disse que jamais negassem alimento e água a quem quer fosse, tivesse a aparência que tivesse. E seguiu seu caminho.

<!--[if !supportLists]--> <!--[endif]-->Chegando à sua terra, encontrou uma imensa festa dos orixás. Como não se sentia bem entrando numa festa coberto de palhas, ficou observando pelas frestas da casa. Neste momento Iansã, a deusa dos ventos, o viu nesta situação e, com seus ventos levantou as palhas, deixando que todos vissem um belo homem, já sem nenhuma marca, forte, cheio de energia e virilidade. E dançou com ele pela noite adentro. A partir deste dia, Obaluaiê e Iansã-Balé se uniram contra o poder da morte, das doenças e dos espíritos dos mortos, evitando que desgraças aconteçam aos homens.

<!--[if !supportLists]-->
<!--[endif]-->

<!--[if !supportLists]-->* <!--[endif]-->In "Mitologia dos Orixás"de Reginaldo Prandi, Ed. Companhia das Letras.(adaptado)

<!--[if !supportLists]--> <!--[endif]-->

Compreendemos, através da leitura desta lenda, que há um conjunto de dualidades associadas à energia deste Orixá, cujo nome, Obaluaiê/ Omulu encerra em si próprio essa mesma dicotomia: se por um lado Ele é a energia ligada ao sol, que em demasia provoca a seca, a infertilidade, a doença, é também a energia que cura, que aquece. É o Orixá que tanto traz consigo a peste, a varíola, que torna as mulheres estéreis, como é a cura para todas as doenças, a energia que permite a vida no planeta.

É também o Orixá que representa a evolução espiritual do ser humano. No texto, Obaluaiê perdoa os homens por lhe terem recusado comida e água, “ainda com fome e sede” e faz com que o mal acabe. Esta passagem demonstra o quanto a sua energia está ligada quer à doença, quer à cura espiritual, à evolução. Estamos doentes, quando temos dentro de nós sentimentos de intolerância, arrogância para com o próximo, quando só damos importância ao aspecto exterior dos nossos semelhantes, menosprezando as suas qualiades e sentimentos. Podemos evoluir, se seguirmos o exemplo que nos é trazido na lenda por Obaluaiê. Só através do perdão, da humildade, da tolerância, caridade e amor incondicional é que sentiremos a irradiação divina deste Orixá, alcançando a cura, mental e espiritual.

Mas, Obaluaiê não é responsável pela nossa evolução só em vida. Ele também está ligado, enquanto Omulu, ao nosso desencarne, é responsável pela nossa passagem. E tal como diz a lenda, é com a ajuda de Iansã, dividindo com Ela os seu domínios na calunga, que Ele, o “Guardião das Almas”, o “Senhor das passagens”, através da sua irradiação divina, nos protege e nos ampara com amor, conduzindo-nos sempre de acordo com o nosso merecimento, permitindo assim que continuemos a evoluir, para que um dia possamos chegar mais perto do Criador! Atôtô Meu Pai!


A.T.U.P.O. - Mary Nogueira