quinta-feira, 4 de novembro de 2010

ESCRITA MÁGICA - PARTE 2


A Escrita Mágica na Umbanda

O ponto riscado

O ponto riscado possui grande significado na liturgia Umbandista. O seu significado expande-se além das suas propriedades magísticas, na sua consagração há muito como “escrita mágica sagrada simbólica” (Saraceni, R.)

Os pontos riscados, como símbolos magísticos, podem também evocar sinais expressos numa representação orientada para um determinado propósito ou para a própria trajectória humana, sendo muitas vezes usada a pemba*, pelos guias, por para poder riscar os seus pontos ou símbolos espirituais. São espaços cuja função é dada e orientada pela entidade. É também através do ponto riscado que os Caboclos, Pretos-Velhos ou Exus contam a sua história, a sua origem e passagens do mundo material e astral, e também no qual manifestam a sua identidade, diferenciada das demais, sendo o próprio estandarte da entidade.

Compreendendo-o deste modo, o ponto riscado é um dos mais vigorosos meios magísticos utilizados na Umbanda, consistindo na sua base de um conjunto de símbolos feitos com pemba e agrupados de forma a movimentar energias e a criar campos de forças, ou como base de sustentação de alguns trabalhos. A variedade de funções que é sua propriedade é vasta; os pontos de descarrego tão sobejamente conhecidos; os pontos de firmeza, etc.

Os pontos riscados com Pemba representam uma grafia de projecção astral; de símbolos que se revestem de poder mágico, que a força do Orixá lhes confere. Criam genericamente uma espécie de campo energético, onde o instrumento utilizado pela entidade, a Pemba, manipula as forças da Natureza na afinidade com a entidade, na sua identificação e domínios, na prossecução do efeito desejado (dependendo também claramente do merecimento do consulente e do médium). São códigos vinculados ao mundo espiritual, no campo de acção de determinada falange de entidades. Quando são desenhados sem conhecimento de causa, acabam por “não projectar a sua grafia luminosa” (Lima, C.) e não passam de sinais inócuos, porque têm que ser movimentados pelo pensamento, assim como não basta ver um ponto num livro para riscá-lo sem o devido conhecimento, e sem as devidas consequências.

Para um ponto riscado, além da Pemba, podem ser usadas outras substâncias, dependendo do trabalho a realizar, como a marafa (pinga ou cachaça), fundanga (pólvora) etc. Também é utilizado somente o gesto, sem matéria adicional, na intenção pretendida.

Muitos dos símbolos sagrados são do conhecimento comum, como a Cruz, a Estrela de David ou de seis pontas, que os Umbandistas reconhecem como a estrela do equilíbrio, na força da justiça de Deus incorporada no Orixá Xangô, entre outros.

Outros desses símbolos mágicos, activados no plano material, são desconhecidos e ainda carecem de classificação. No seio da comunidade Umbandista, as divergências de opiniões mantêm discussão prolongada sobre este tema. Vários dirigentes e autores, sem consenso na sua abordagem, diferem na leitura desses mesmos símbolos, catalogando e fazendo triagens próprias. Outrossim, a reprodução de símbolos e grafias idênticas encontram-se em diversas casas, países, até mesmo religiões. Certo é que, na transversalidade da Umbanda, se reconhecem símbolos riscados indicando mistérios que são propriedade ou capacidade de determinada entidade. Será ponderado não admitir conhecimento absoluto sobre o tema, também na perspectiva de uma aprendizagem contínua...

"Usem bem os símbolos. Usem-nos mais e mais, e descobrir-se-ão num estágio onde já não precisarão deles. A mente humana consegue alcançar qualquer ponto do Universo imediatamente."

Mikao Usui

*pemba – espécie de pequeno giz calcário em formato oval fabricado com diversos componentes


Vitorino Camelo e Frederico Castro - A.T.U.P.O.


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